domingo, 29 de agosto de 2010

Hoje eu estou assim mesmo...

Hoje eu estou assim: um pouco cansada demais.
Hoje eu estou assim: um pouco alheia demais.
Hoje eu estou assim: um pouco escondida, um pouco indecisa, um pouco concisa demais...

Hoje eu estou assim: um tanto distraída demais.
Hoje eu estou assim: um tanto dividida demais.
Hoje eu estou assim: um tanto confusa, um tanto obscura, um tanto absorta demais...

Hoje eu estou assim: muito além das minhas objeções.
Hoje eu estou assim: muito aquém das minhas predileções.
Hoje eu estou assim: muito além das minhas brevidades, muito aquém dos meus momentos; muito além das minhas saudades, muito aquém das minhas teorias; muito além das razões, muito aquém dos meus idealismos.

Hoje eu não me sinto assim, muito bem...
Hoje eu não me sinto assim, muito receptiva, muito festiva, muito revestida de ousadia.
Hoje eu não me sinto assim, muito bem...
Hoje eu não quero nada, eu não quero você, eu não quero ninguém...

Hoje eu me sinto assim, misteriosamente incompleta...
Hoje eu me sinto um tanto vulnerável, um pouco desgarrada e infinitamente só: sem princípios, sem percursos, sem um fim...
Hoje eu quero apenas que o mundo me esqueça, que continue a sua previsível trajetória e me deixe aqui. Quieta e pensativa assim...

Hoje eu estou sei lá... meio assim!
Exageradamente eu, minguadamente a mim...
Hoje eu me sinto quase uma insana confessa, quase uma devassa implacável, quase uma regenerada arrependida.
Hoje eu me sinto quase uma autista, quase uma criança... talvez algo bem próximo de uma situação imprevista.

Hoje eu quero ficar só... somente assim...
Extremamente solitária, alimentando-me apenas da minha insuficiente e tão fragilizada companhia.
Não quero concordar nem com sua vida nem com suas decisões; não quero responder com argumentos às suas, sempre, incontestáveis críticas; não quero insistir com suas tão refutáveis verdades; não quero admitir que seus princípios estão sempre, eticamente corretos e que as minhas loucuras estão sempre, socialmente, erradas...

Hoje eu quero afrouxar as minhas rotineiras algemas, retirando o lacre da falsa proteção que fizeram-me acreditar ser necessária.

Hoje eu quero permitir que o calor do Sol derreta o gelo das minhas aceitáveis limitações. Hoje eu quero encará-lo de olhos abertos, sem medo que o seu brilho cegue as minhas ousadas experiências.

Hoje eu quero libertar meus pensamentos do cativeiro do seu coração e fazê-los correr em busca de novos horizontes.
Hoje eu quero colorir meus projetos com as matizes já esquecidas no baú das minhas lembranças.
Hoje eu quero voltar a sentir o estardalhaço dos meus exageros, o som evasivo das minhas excentricidades, as estratégias efervescentes das minhas contínuas idéias.

Hoje eu quero atravessar a ponte da sua permissividade.
Hoje eu quero escalar a montanha das minhas limitações.
Hoje eu quero invadir a calmaria da sua praia, poluindo suas águas com as minhas intrépidas agitações.
Hoje eu quero afundar meus anseios na profundidade dos meus pensamentos e simplesmente morrer, afogada nos meus próprios sonhos, sem ar, sem medo e sem juízo...


Hoje eu quero apenas me sentar aqui, silenciosamente ao meu lado. Hoje eu quero apenas me aceitar e tentar conviver, harmoniosamente, com minhas próprias infantilidades.
Hoje eu quero apenas alguns instantes para me conhecer, para me amar... para um dia, quem sabe, ter maturidade o suficiente para me readmitir.

Gilmara Giavarina

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