domingo, 12 de setembro de 2010

Ser mãe é padecer no paraíso

Sempre me achei uma mãe legal. Me considerava bem liberal, às vezes até exageradamente. Como tenho dois filhos, sempre incentivei o maior a ter muitas namoradas, sair para baladas todos os dias da semana, não ser muito neurótico para os estudos e até deixar um pouco de lado seu senso extremo de responsabilidade.
Pois bem, o fato é que tudo isso mudou quando ele começou a seguir meus conselhos. Passei a odiar as namoradas que me eram apresentadas, a “cortar” a mesada para impedi-lo de frequentar as baladas dos finais de semana e até cobrar maior rigor nos estudos, controlando suas notas na faculdade. Quando me dei conta, estava uma mãe chata, implicante e extremamente ciumenta.
Acrescentei, na minha agenda, mais duas sessões de terapia, como providência emergencial. Nada de melhoras. Quando uma das namoradas começou a me chamar de sogra, então! Quase enfartei! Aumentei a dose do antidepressivo. Nada de melhoras. Arrumei um cachorro para me distrair. O que arrumei foi mais dor de cabeça. Pensei em colocar meu filho no internato, mas lembrei que já era maior de idade. Estava num labirinto. Passava as noites em claro, esperando o farol do carro iluminar a garagem; lavava camisetas e mais camisetas com manchas de batom esparramadas na gola; analisava pedidos e mais pedidos de aumento de mesada para substituir as cuecas antigas pela coleção de box coloridas; guardava as inúmeras caixas de preservativos espalhados pelos bolsos das calças e pelo estofamento do carro, etc. É uma sensação horrível. De perda. De impotência. De insegurança. De vontade de trancá-lo no quarto, de colocá-lo para dormir, de fazê-lo tomar todo o leite quente da caneca, de agasalhá-lo antes de deixá-lo sair no sereno, de congelá-lo até que eu encontre a pessoa ideal para sua vida, de programá-lo para ser feliz; deletando todas as lágrimas e todo sofrimento que mais dia, menos dia, sabemos que irão aparecer. É uma sensação de estar sendo jogada para escanteio. O dia em que ele fez sinal para eu ocupar o banco traseiro para ceder o da frente aquela vigaristinha... nossa, foi uma humilhação a céu aberto. Trocar a própria mãe por uma fulaninha que mal conhecia, ninguém merece! É, parece divertido, mas chega ser uma infindável penitência. Toda mãe espera que o filho fique ao seu lado a qualquer custo. Toda mãe acalenta o dom de proteger sua “cria”, de rastrear seus caminhos, de cobrir (com espuma) os espinhos sorrateiros da estrada. Porém, sabemos o quanto esses desejos são impossíveis. A maturidade chega de repente, sem anúncios formais. Daí, tudo aquilo que achávamos “tirar de letra”, torna-se um peso quase impossível de suportar.
É como se entregássemos nosso menino para vida, sem saber o destino que ela reserva para seu futuro.
Então, diante dessa impotência, resta-nos apenas beijá-lo carinhosamente. Resta-nos apenas segurá-lo um pouco mais nos sorrateiros abraços. Resta-nos apenas pedir a Deus que guarde e proteja o mais valioso dos nossos pertences.

Nessas horas, divago. Penso em como somos vulneráveis diante da vida, em como andamos sobre o mar diante da fé, em como somos privilegiadas por exercer difícil arte materna nesse mundo.

Nessas horas tenho apenas uma única certeza. A certeza que o amor de uma mãe é o sentimento mais singelo, puro e despretensioso que existe. Sinônimo de renúncia. Um amor que não espera retorno, que não cobra gratidão, que não enxerga dificuldades. Um amor que quanto mais se doa, mais transborda! Um amor sem medidas, sem exageros, sem comparações, sem limites!

Gilmara Giavarina

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Depois de um tempo de vida...

Depois de um tempo de vida, acordei. Confesso que um tanto tarde demais, mas ainda viva. Olhei para os lados e, como dia Clarice Lispector, deparei-me com demasiada poeira encobrindo a palavra amor.
De relance, abri a janela do meu quarto, ansiando que a escuridão fugisse dali aos saltos, ou mesmo aos trancos e barrancos...

Depois de um tempo de vida, acordei e me reencontrei. Não estava mais tão jovem, tão bela, tão doce, tão insegura. Me reencontrei mais madura, mais consciente, mais senhora das minhas vontades e das minhas desilusões.

Depois de um tempo de vida, acordei. Olhei para trás e tive a certeza que, como Cora Coralina, retirei muitas pedras do caminho, plantando muitas flores em seus lugares, todavia me esqueci de revolver a terra do meu próprio jardim. Andei, por muito tempo, cuidando de situações que me conduziram a lugares nunca antes idealizados por mim... enfim, fiz história, mas não protagonizei tal enredo.

Depois de um tempo de vida, acordei. Percebi que, realmente, fui egoísta. Tive a pretensão de roubar a felicidade do mundo e ir morar com ela, para o resto da minha vida.
Admito, também, que fui mimada. Tudo porque, sempre tive a certeza que nasci para ser cuidada, para ser protegida e para ser amada... não por laços de sangue, tão pouco por redomas de vidro, mas por elos de carinho, de confiança e principalmente de respeito pelas minhas vontades e pelas minhas escolhas.

Depois de algum tempo eu acordei e percebi que o que eu esperava dessa vida não era lá muita coisa, apenas o necessário para que minha alma não murchasse, para que meus olhos não secassem e para que meu riso não cedesse lugar, constantemente, às lágrimas.
Esperava apenas pela liberdade de ir e vir, de abraçar as pessoas que me fizessem bem, de escrever sem medo, de viver sem pressa, de viver sem culpa, de fazer valer as minhas pequenas vontades frente às grandes ignorâncias da vida.

Depois de algum tempo, eu acordei, me olhei e tomei algumas decisões: apaguei a luz dos meus sonhos, fechei a porta dos meus desalentos e voltei a dormir... como sempre fiz, a minha vida inteira!

Gilmara Giavarina

domingo, 5 de setembro de 2010

Ciúme... o rival do amor!

Às vezes fico divagando, entre as milhares de hipóteses possíveis, para entender um pouquinho desse sentimento tão indecifrável chamado “ciúmes”. Horas e horas de perguntas, sem ao menos uma única resposta palpável. Sentimento que quando instalado na vida, despeja o amor do coração. Sentimento que além de mascarar a realidade e fantasiar os fatos, é capaz de mover milhares de montanhas em lugares onde elas nem sequer existem.

Acredito que o ciúme é sinônimo de “posse”, e não de união. Acredito que o ciúme vem agregado ao domínio de corpos e não a complementação de almas.

Acredito que o ciúme, numa relação, é sempre um ponto de interrogação, que mais dia, menos dia, terminará com um ponto final. Isso porque ninguém aguenta intercalar, com um ponto e vírgula, cada passo que dá na vida para tentar explicar o que, na maioria das vezes, nem possui explicação.

Percebo que o ciúme é a espera contínua de uma traição, como se ela estivesse pré- determinada para acontecer... um ilusionismo, como uma lente de aumento trabalhando incansavelmente em tempo real.

Eu sempre fui uma pessoa que acreditei no amor, mas depois de um tempo, passei a questioná-lo. Percebo que o amor foi substituído por tantos outros sentimentos. Hoje, a maioria dos corações, dificilmente batem, pois aprenderam a variar o ritmo, conforme a ocasião.

Eu, infelizmente, não consigo mascarar as batidas do meu. O ritmo do meu coração obedece a minha alegria ou o meu desespero. Mas hoje, diante dos fatos, tenho que admitir que o ritmo dessa vida é outro. Os valores são outros. Os amores que eu pensava existir, foram substituídos por cobranças, regras, determinações e imposições, que por mais que me esforce, não consigo entender.

Na minha concepção, amor que aprisiona não é amor...

Amor não é sinônimo de medo, de insegurança, de tristeza, de desespero.

Amor é sinônimo de alegria, de segurança, de liberdade, de vida!

Como justificar o excesso de ciúme pelo excesso de amor?
Como se o verdadeiro amor cobrasse atenção...
Como se o verdadeiro amor tivesse regras para existir...
Como se o verdadeiro amor determinasse a hora de sorrir ou a hora de chorar...
Como se o verdadeiro amor impusesse o único caminho para seguir ou para parar...

Não é esse o amor que eu acredito existir, e é por isso que não acabarei essa crônica com um ponto final, mas com uma reticências, porque eu jamais entenderei como o ciúme, na maioria das vezes, consegue superar o amor...

Gilmara Giavarina

sábado, 4 de setembro de 2010

Descer do salto é muito bom!

Hoje estive observando como as pessoas escondem a verdadeira identidade sob um fictício lençol de seda."Aparências, nada mais..."
Era sexta-feira. Estávamos em um grupo, de mais ou menos quinze pessoas, conversando sobre nossas preferências musicais. Um gosto mais requintado que o outro. Nomes na mídia, da moda, da elegância. Alguns dos quais nunca tinha ouvido falar na vida! E dá-lhe vinho importado com torradinhas light...
Eu era a única do grupo que admitia gostar de música brega e confessava, sem nehum receio, minha estupenda vontade de comer uma pizza com um duplo copo de coca-cola gelada. Lógico que fui alvo das piadinhas... e, como sempre, não fiquei nem um tatinnho preocupada. Mas como Deus também deve gostar de música brega e detestar comida light, deu-me a intuição de chamar a turma para um duelo no videokê, regado a batata chips enlatada, já que o assunto estava escasso, "morno" e sem graça. Depois de um certo charminho, todos aceitaram. De sacanagem, comecei pela sofistificação. Selecionei os top hitts que eles tanto idolatravam na conversa anterior. Ninguém se habilitava a cantar. Mudei a tática. Escolhi um repertório pra lá de brega, tipo: “Porto Solidão”, “Ursinho Blau Blau”, “Casinha Branca”... Rosana, Kátia, Sidney Magal...e não é que a coisa pegou fogo??? Deu até briga para agarrar o microfone. O grupo sabia decor as letras e nem destoava no ritmo! Ahhhh, aí foi a minha vez de zoar... mas eles estavam tão empolgados que nem se importavam!!! A festa estendeu-se até às 4h da madrugada. As mulheres desceram do salto e sambaram descalças. Os homens trocaram o vinho pela cuba libre e voltaram a ser crianças dentro da piscina. Foi a melhor festa do ano! Nunca rimos tanto com as performances, que até então, escondiam-se atrás do tal “cetim importado”...

Adoro ser responsável por incendiar as aparências, deixando que os corações se aqueçam na brasa da autenticidade. Acredito que é isso é que faz a real diferença na vida: sair do armário, soltar a purpurina do potinho, correr descalça na chuva e admitir que ser adulto em tempo integral é um verdadeiro porre!!!

Mudando o rumo dos Contos de Fadas...

Os irmãos Grimm eram homens. Isso explica o enredo fantasioso e previsível dos seus Contos. Se eles fossem mulheres, os finais das suas histórias teriam outro rumo, com certeza.
Veja o caso de Branca de Neve, por exemplo. Que mulher inteligente perderia grande parte do seu tempo conversando com pardais? Que mulher, em sã consciência, se alegraria com o trabalho duro de retirar água de um poço manual? Que mulher, no seu juízo perfeito, sairia de casa com aquele vestidinho cafona, esperando ser beijada por um príncipe? E quando a “lesada” se perde na floresta, então? Não era ela que vivia conversando com os veadinhos naqueles bosques, como não sabe se virar por aquelas bandas? O pior é quando a moça encontra o tal chalé abandonado e limpa-o com satisfação, sem exigir um tostão dos anões pela faxina. Que mulher, em seu lugar, não mandaria a neura da limpeza catar coquinho? O cúmulo foi a “sem noção” preparar uma sopa vegetariana, com todos aqueles coelhos dando sopa pela cozinha! A “thirda” ainda conseguiu cair no conto da maçã envenenada e de sobra, esqueceu, depois da morte da madrasta, de reclamar a herança do pai, deixando todos os seus bens para o Governo Real... ahh Jesus, me chicoteia!
A chata da Chapeuzinho Vermelho então, nem se fala! O que é o fim daquela touca chinfrim na cabeça? Uma menina daquele tamanho, cantando pela estrada a fora, em pleno matagal? Tá bom... e eu sou o Bozo!!!
E onde estava o juízo daquela mãe, deixando uma criança tão tontinha dessa perambular sozinha pela estrada? Onde estava o pessoal do CRAMI que não tirou a guarda dessa desnaturada? E o que a sua avó estava fazendo no meio da floresta, sem celular ou conexão com a internet? Se a “véia” não conseguia nem levantar da cama, como conseguiu se esconder dentro do armário? Pior que isso é ninguém perceber o preocupante grau de miopia da menina, fala sério, confundir a própria avó com um lobo é, no mínimo, sacanagem! P.Q.P. !!!
A Cinderela então, é uma patacoada! Quem seria imbecil para usar um sapatinho de vidro e correr o risco de cortar o pé, num tropeção? E como se explica o sapatinho intacto, se o encanto perdeu a validade a meia noite? E vamos combinar, né? Que príncipe mais babaca aquele, dançar o baile todo com a moça e nem perguntar o número do seu telefone celular. Foi imperdoável!
A Bela e a Fera extrapola os limites da minha aceitação. Tá na cara que a moça era uma interesseira. Com um palácio daqueles, até eu encarava a Fera...
Sabe que eu acho o peludo bem mais simpático que aquele loiro gay e aguado que aparece no final da história?
E o Gastão, o que é aquilo? Quem se apaixonaria por aquele monstro? Se eu fosse a autora desses contos, mudaria todos os finais!
Na minha versão, Branca de Neve teria um caso com o caçador, matando de inveja a madrasta, que teria que se contentar com um dos anões, os únicos homens disponíveis no reino! O príncipe, só apareceria depois, para pagar as contas do castelo, cuidar dos cavalos e alimentar os bambis da floresta, afinal, aquela capinha vermelha com boininha de pena nunca me enganaram...
No caso da Chapeuzinho, em primeiro lugar, daria um fim estratégico naquele ponche cafona. Depois, com um vestido moderno da Lilica Ripilica®, Chapeuzinho arrumaria, além da cesta de doces para vovozinha, as suas próprias malas. Se a mãe abandonou a própria progenitora o que faria com a filha, daqui há alguns anos? Morar com a avó seria mais seguro. Depois, mandaria um e-mail para o Good Angels® para procurar o paradeiro do seu pai, jamais mencionado na história. Quanto ao lobo, o mandaria concentrar suas energias no sopro dos três porquinhos e deixar a coitada da senhorinha em paz, afinal, ele morreria no final de qualquer história mesmo, sendo de um jeito ou de outro!
Quanto a Cinderela, entraria com uma liminar na Procuradoria Pública prorrogando o encanto do sapatinho por dois anos e depois, assistiria de camarote, quanto tempo a coitada aguentaria o papo furado daquele almofadinha. Eu não daria mais que três meses para vê-la, solicitar por escrito, o cancelamento do encanto. Aposto todas minhas fichas nisso!
Já a Bela teria um final feliz com a Fera. Suas filhas nasceriam gordas e peludas e seus filhos, delicados e esguios.
Seria uma família feliz! A Bela abriria seu próprio salão de depilação, já que sempre foi “fera” nesse trabalho!
A Fera investiria suas economias num Sex Shop, já que sempre foi um “animal” nesse ramo. Quanto as entregas a domicílio, deixaria aos cuidados do sogro. Gastão viraria go-go boy e seria explorado pelas mulheres... bem feito!
Se eu fosse a autora dessas histórias, mudaria o rumo de todos os acontecimentos, colocaria dinamismo nos enredos... mas como não sou, paciência, muita paciência...

Gilmara Giavarina

Direção perigosa

Dirigir minha ansiedade é tarefa quase impossível!
Não sei engatar primeira. Já quero sair de quarta.
Marcha lenta? Só depois das colisões.
Diante do estrago, causado por direção imprudente e pela velocidade, acima do permitido, ando por um bom tempo com o freio de mão puxado, analisando, ressabiada, os obstáculos pelo retrovisor...
Minhas idéias não entram em ponto morto, nunca!
Vivem no piloto automático.
Raramente dou seta.Viro, de repente, sem aviso prévio! Estaciono, na maioria das vezes, em local proibido.
Minha ousadia não aceita balizas, por isso vivo, constantemente, pendurada em multas!

Gilmara Giavarina

Um show intimamente particular

Sou fã incondicional doa banda Roupa Nova. Adoro o estilo romântico, a poesia das letras, a melodia da voz. Não perco um show. Tenho todos os CDs, todos os DVDs. No último show, que aconteceu em Bauru, fui sozinha. Meu marido estava viajando. Cheguei duas horas mais cedo e fiquei quase no gargarejo. Lotação geral. Logo na segunda música, me chamou atenção o comportamento de uma mulher. Muito bonita, aparentando uns trinta e oito anos. Não abria os olhos, nem por um momento. Entrava música e terminava música e lá estava ela, de olhos cerrados, acompanhando as melodias, ora sorrindo, ora compenetrada. Seu show era particular, com cenário personalizado. Permaneceu assim durante todo o show. Na última música, permitiu que a vida voltasse a pulsar em seus devaneios. Lágrimas jorravam dos seus olhos, sem permissão. Não tive coragem de invadir suas lembranças. Fiquei pensando... qual sentido teria aquelas músicas em sua vida? Quais os flashes foram compostos por aquelas trilhas sonoras? Aquelas lágrimas denunciavam saudades, decepções ou alegrias? Cenas foram revividas, reiventadas ou eternizadas? Momentos que foram sepultados ou uniões sacramentadas?
A vida tem cor. Em alguns momentos, as cores primárias são evidenciadas, em outros, os tons se misturam, aquarelando a sobriedade dos nossos sentimentos. O cinza é a base, o fundo. Cabe a nós uma demão amarelo ouro para iluminar a tela.
A vida tem som. Isso é inevitável. Cada melodia nos remete uma cena. O som da saudade, o som do arrependimento, o som do nascimento, o som da perda. O som do dia, o som da noite. O som do choro, o som do riso.
A vida tem cheiro. O cheiro das pessoas que amamos. O cheiro das más recordações. Cheiro de brisa, de chuva, de mar. Cheiro das almôndegas da minha avó, do pão caseiro da minha mãe, da colônia pós-barba do meu pai, do leite com groselha da minha infância. Cheiro de tangerina, de limão rosa, de pitanga misturada com amora.
A vida tem gosto. Gosto de leite condensado cozido , de pimenta malagueta utilizada no feijão da tia Nice, gosto de manga verde no pé. Gosto de pecados, nem sempre confessados. Gosto de beijo na boca, gosto de achocolatado morno, de suco de morango gelado, de sorvete de abacaxi com vinho, de café sem açúcar... de leite ninho com canela, de geléia de mocotó no copo. Gosto de azedo, gosto de vingança, gosto de vitória, gosto de traição.
Cada gosto, uma lembrança. Cada cheiro, uma história.
Cada som, uma memória. Cada cor, um acontecimento.
Fatos que compõem uma vida.
Naquele show, os músicos não eram mais importantes do que o som que produziam. Nada foi maior que o espetáculo particular do qual aquela mulher reviveu. Jamais saberei o motivo daquelas lágrimas, porém tenho a certeza que ali, naquele momento, havia uma fascinante história.
Não sei a cor, não senti o cheiro, não provei o gosto, apenas compartilhei do mesmo som...
Um mesmo som, que possibilitou a ressurreição de centenas de lembranças. Ali, naquele espaço, havia uma explosão de cores, uma mistura de cheiros, uma composição de gostos, uma junção de acordes e uma amálgama de emoções eclodindo num só coro, estilhaçando-se em inúmeras interpretações!

Gilmara Giavarina